sábado, 1 de janeiro de 2011

Pequeno Aventureiro

Lá longe para além das montanhas havia uma aldeia e nela nascera Zahar, desde cedo mostrara ao mundo a que veio. Zahar não era nem de longe a figura de um herói, com seu jeito frágil, silencioso e sem amigos, quão infeliz era a maioria dos garotos de sua idade tinha amigos.
Mas o que tinha de solitário, lhe sobrava de imaginação, pensava em castelos, dragões, fadas e o mais temido dos seres maus, o adulto com seus empregos, porque eram constantemente estressados. Imaginava que as crianças eram mordidas por um bicho chamado “Responsabilidade”, e depois disto viravam adultos, por isso sempre fechava as janelas de seu quarto, que davam para uma vista maravilhosa das montanhas que cercavam a aldeia, para que esse bicho não o pegasse.
A partir dessa imaginação típica de uma criança de sete anos, Zahar adquiriu à estranha mania de esconder objetos, seus brinquedos, a prataria de sua mãe, as canetas de seu pai e até a dentadura de seu avô, De modo que mesmo sozinho, brincava de esconder tesouros e lutar contras os mais monstruosos seres imaginários. Mas Zahar planejava esquecer o local de seus tesouros, de tal modo que nem ele mesmo pudesse encontrar mesmo que desejasse somente se fosse por acidente. Para esquecer pulava, corria, rodopiava como se esperasse que por um passe de mágica a lembrança saltasse de sua cabeça. Ninguém nunca entendeu sua mania, brigavam, o castigavam e até o privavam de sorvete, o que era para ele o ato mais imoral feito contra uma criança, porque uma criança sem sorvete é uma criança sem forças para brincar, uma criança que não brinca vira adulto. Mesmo com todas as privações, Zahar jamais disse onde escondia os objetos, alguns ele realmente não lembrava. Afinal eles (os pais) não sabiam da verdade, nas férias de verão Zahar enterrou seu boneco preferido, acabou por esquecer-se de onde havia escondido o brinquedo.... procurou ... procurou, horas se passaram, dias, semanas, mas no inverno sem esperar ou menos desejar reencontrou seu boneco. Zahar o viu próximo a uma árvore sujo e molhado, ele jamais se esqueceria desta cena e da emoção de reencontrar seu tesouro particular, uma emoção maior de que quando ele ganhou de presente de seus pais esse brinquedo. Então pensou, as pessoas choram, brigam e fazem guerras porque elas querem outras coisas, além das que já possuem então ele pensou, se eu esconder aquilo que é importante para as pessoas, elas voltariam a sentir a felicidade que perderam.
A partir daquele momento ele passou a enterrar as coisas, para que a chuva de inverno trouxesse de volta a alegria das pessoas outrora perdida, Zahar pretendia construir para as pessoas um mundo de aventura. Vamos nos perder e nos esconder um pouco, para que nos reencontrem, para que nos reencontremos.

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