domingo, 9 de janeiro de 2011

Espelho de Apolo

E ele odiou tanto o outro que enlouqueceu,
 porque o outro era tão ele,
 que doeu ver toda aquela verdade nua...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Leituras de um Olhar






Os dias são sempre tão comuns, que de certa forma comummente temos a impressão de sermos os mesmos. Mas eu sempre mudo mentalmente o verdadeiro sentido das coisas, como quem brinca de ser pintor. A imaginação é uma coisa fantástica, você pode simplesmente criar teorias sobre tudo e que disse que somente a prática é divertida, o processo de imaginar, ansiar, planejar, tem um algo diferentemente divertido. Tentei andar de bicicleta 3 vezes, todas as três, descia de um alto de um morro e caia logo em seguida...ainda não sei andar de bicicleta, nem quero no momento, os poucos segundos estão na minha memória, no minuto em que quiser andar de bicicleta, estará lá....guardado....sem muita explicação, só criando uma verdade, não é para entender.
E quando se trata de imaginar-se pintor e criar verdades, particularmente me orgulho dessa capacidade tão pouco valorizada, mas que torna quem a possui um arqueólogo de almas. E se é real o que dizem, de que “os olhos são a porta para a alma”. É por lá que devemos entrar. Certas coisas acontecem nos lugares mais inusitados, como na fila de um banco por exemplo.  Estava lá uma mulher a poucos metros de mim, de certa forma estávamos um na frente do outro, já que a fila dava voltas e voltas, ela não tinha nada de especial, era bonita (como muitas outras), jovem, alta e pálida, mas o que me chamou atenção foi seu olhar perdido, pensativo, fixo, quase hipnotizado. Olhei profundamente em seu olhar, como que pretende descobrir um segredo, notei que era uma mulher cautelosa, daquelas que pensa milhares de vezes antes de tomar alguma decisão, isso explicaria seu olhar fixo, ou poderia ser apenas um momento de distração, de alguém que tem muitos problemas para resolver ao longo do dia, e isto explicaria sua maquiagem um pouco borrada, ela devia ter chorado, o que mostraria que sendo ela tão decidida como uma mulher de ferro que aparentava ser, possui um lado sentimental, escondido, proibido mesmo para ela, ou poderia ser porque ela não dormiu bem na noite anterior preocupado com os problemas do dia que viria e acordou com dor de cabeça e sem muita motricidade para se maquiar.
Pela primeira vez encontrei um olhar tão cheio de pictogramas quanto o de Monalisa, muitas poderia ser as explicações, dessa vez não queria minha verdade, queria a dela, queria ela....de repente o olhar fixo, inerte, ganhou movimento e se cruzou com o meu, congelei, meus olhos não me obedeciam, somente miravam nos olhos dela, senti que minha alma também estava sendo desvendada e nada podia fazer, senti um prazer apaixonadamente sexual, nós agora estávamos ligados, nunca a vi, mas ela sempre esteve lá...na minha imaginação e eu a imortalizei com um olhar. Hoje, meses depois daquela paixão passageira, ainda não sei andar de bicicleta, mas aprendi uma coisa nova, filas de banco podem ser interessantes.
Paulo Roberto

sábado, 1 de janeiro de 2011

Pequeno Aventureiro

Lá longe para além das montanhas havia uma aldeia e nela nascera Zahar, desde cedo mostrara ao mundo a que veio. Zahar não era nem de longe a figura de um herói, com seu jeito frágil, silencioso e sem amigos, quão infeliz era a maioria dos garotos de sua idade tinha amigos.
Mas o que tinha de solitário, lhe sobrava de imaginação, pensava em castelos, dragões, fadas e o mais temido dos seres maus, o adulto com seus empregos, porque eram constantemente estressados. Imaginava que as crianças eram mordidas por um bicho chamado “Responsabilidade”, e depois disto viravam adultos, por isso sempre fechava as janelas de seu quarto, que davam para uma vista maravilhosa das montanhas que cercavam a aldeia, para que esse bicho não o pegasse.
A partir dessa imaginação típica de uma criança de sete anos, Zahar adquiriu à estranha mania de esconder objetos, seus brinquedos, a prataria de sua mãe, as canetas de seu pai e até a dentadura de seu avô, De modo que mesmo sozinho, brincava de esconder tesouros e lutar contras os mais monstruosos seres imaginários. Mas Zahar planejava esquecer o local de seus tesouros, de tal modo que nem ele mesmo pudesse encontrar mesmo que desejasse somente se fosse por acidente. Para esquecer pulava, corria, rodopiava como se esperasse que por um passe de mágica a lembrança saltasse de sua cabeça. Ninguém nunca entendeu sua mania, brigavam, o castigavam e até o privavam de sorvete, o que era para ele o ato mais imoral feito contra uma criança, porque uma criança sem sorvete é uma criança sem forças para brincar, uma criança que não brinca vira adulto. Mesmo com todas as privações, Zahar jamais disse onde escondia os objetos, alguns ele realmente não lembrava. Afinal eles (os pais) não sabiam da verdade, nas férias de verão Zahar enterrou seu boneco preferido, acabou por esquecer-se de onde havia escondido o brinquedo.... procurou ... procurou, horas se passaram, dias, semanas, mas no inverno sem esperar ou menos desejar reencontrou seu boneco. Zahar o viu próximo a uma árvore sujo e molhado, ele jamais se esqueceria desta cena e da emoção de reencontrar seu tesouro particular, uma emoção maior de que quando ele ganhou de presente de seus pais esse brinquedo. Então pensou, as pessoas choram, brigam e fazem guerras porque elas querem outras coisas, além das que já possuem então ele pensou, se eu esconder aquilo que é importante para as pessoas, elas voltariam a sentir a felicidade que perderam.
A partir daquele momento ele passou a enterrar as coisas, para que a chuva de inverno trouxesse de volta a alegria das pessoas outrora perdida, Zahar pretendia construir para as pessoas um mundo de aventura. Vamos nos perder e nos esconder um pouco, para que nos reencontrem, para que nos reencontremos.