E quando se trata de imaginar-se pintor e criar verdades, particularmente me orgulho dessa capacidade tão pouco valorizada, mas que torna quem a possui um arqueólogo de almas. E se é real o que dizem, de que “os olhos são a porta para a alma”. É por lá que devemos entrar. Certas coisas acontecem nos lugares mais inusitados, como na fila de um banco por exemplo. Estava lá uma mulher a poucos metros de mim, de certa forma estávamos um na frente do outro, já que a fila dava voltas e voltas, ela não tinha nada de especial, era bonita (como muitas outras), jovem, alta e pálida, mas o que me chamou atenção foi seu olhar perdido, pensativo, fixo, quase hipnotizado. Olhei profundamente em seu olhar, como que pretende descobrir um segredo, notei que era uma mulher cautelosa, daquelas que pensa milhares de vezes antes de tomar alguma decisão, isso explicaria seu olhar fixo, ou poderia ser apenas um momento de distração, de alguém que tem muitos problemas para resolver ao longo do dia, e isto explicaria sua maquiagem um pouco borrada, ela devia ter chorado, o que mostraria que sendo ela tão decidida como uma mulher de ferro que aparentava ser, possui um lado sentimental, escondido, proibido mesmo para ela, ou poderia ser porque ela não dormiu bem na noite anterior preocupado com os problemas do dia que viria e acordou com dor de cabeça e sem muita motricidade para se maquiar.
Pela primeira vez encontrei um olhar tão cheio de pictogramas quanto o de Monalisa, muitas poderia ser as explicações, dessa vez não queria minha verdade, queria a dela, queria ela....de repente o olhar fixo, inerte, ganhou movimento e se cruzou com o meu, congelei, meus olhos não me obedeciam, somente miravam nos olhos dela, senti que minha alma também estava sendo desvendada e nada podia fazer, senti um prazer apaixonadamente sexual, nós agora estávamos ligados, nunca a vi, mas ela sempre esteve lá...na minha imaginação e eu a imortalizei com um olhar. Hoje, meses depois daquela paixão passageira, ainda não sei andar de bicicleta, mas aprendi uma coisa nova, filas de banco podem ser interessantes.
Paulo Roberto
COMENTÁRIO DE GEORGE POR E-MAIl
ResponderExcluirPaulo Mendes, meus parabéns pelo blog, está muito legal. Vi seu ultimo texto e como não consegui
postar um comentário, estou lhe mandando esse e-mail para parabenizá-lo. Achei muito envolvente
sua reflexão, principalmente quando vc fala da fila do banco. São de coisas assim que precisamos,
descobrir as riquezas que o cotidiano nos dá e que muitas vezes deixamos passar despercebidas.
Se vossa excelencia me permitir, estou lhe enviando um texto do Rubem Braga intitulado Meu ideal
seria escrever. É um texto relativamente simples, mas que acho de uma singular beleza. Mais uma
vez parabéns Paulo Mendes. Qualquer dia vc aparece em um desses programas de TV como um dos
maiores blogueiros do Brasil, rsrsrs.
Abraço, George.
Vossa Santidade sempre me surpreende, estou sem palavras, além de estar muito feliz de vossa excelencia ter tirado um tempo para ler o que escrevi...e vou ler o texto de Rubens Alvez com muita atenção...Muito grato George!!!
ResponderExcluirAcho muito admirável o teu interesse pelas mudanças do 'eu'...as vezes a vida vai passando e passa somente,então é nessa condição que entra 'o outro' para nos reconhecer e apresentar nós a nós mesmo! Lindo o teu encanto pelo mundo da imaginação,Alice que o diga...
ResponderExcluirEscrever também é uma porta para a alma querido, adoro tua moldura!
Um beijo e escreva sempre;*
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO imaginar como possibilidade... mt legal. Percebi que tem tanta coisa que não precisa de definição clara, ainda mais quando encontramos algo no suposto "vazio" do desconhecido.
ResponderExcluirE quanto à bicicleta, novas pinturas heim??