sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Leituras de um Olhar






Os dias são sempre tão comuns, que de certa forma comummente temos a impressão de sermos os mesmos. Mas eu sempre mudo mentalmente o verdadeiro sentido das coisas, como quem brinca de ser pintor. A imaginação é uma coisa fantástica, você pode simplesmente criar teorias sobre tudo e que disse que somente a prática é divertida, o processo de imaginar, ansiar, planejar, tem um algo diferentemente divertido. Tentei andar de bicicleta 3 vezes, todas as três, descia de um alto de um morro e caia logo em seguida...ainda não sei andar de bicicleta, nem quero no momento, os poucos segundos estão na minha memória, no minuto em que quiser andar de bicicleta, estará lá....guardado....sem muita explicação, só criando uma verdade, não é para entender.
E quando se trata de imaginar-se pintor e criar verdades, particularmente me orgulho dessa capacidade tão pouco valorizada, mas que torna quem a possui um arqueólogo de almas. E se é real o que dizem, de que “os olhos são a porta para a alma”. É por lá que devemos entrar. Certas coisas acontecem nos lugares mais inusitados, como na fila de um banco por exemplo.  Estava lá uma mulher a poucos metros de mim, de certa forma estávamos um na frente do outro, já que a fila dava voltas e voltas, ela não tinha nada de especial, era bonita (como muitas outras), jovem, alta e pálida, mas o que me chamou atenção foi seu olhar perdido, pensativo, fixo, quase hipnotizado. Olhei profundamente em seu olhar, como que pretende descobrir um segredo, notei que era uma mulher cautelosa, daquelas que pensa milhares de vezes antes de tomar alguma decisão, isso explicaria seu olhar fixo, ou poderia ser apenas um momento de distração, de alguém que tem muitos problemas para resolver ao longo do dia, e isto explicaria sua maquiagem um pouco borrada, ela devia ter chorado, o que mostraria que sendo ela tão decidida como uma mulher de ferro que aparentava ser, possui um lado sentimental, escondido, proibido mesmo para ela, ou poderia ser porque ela não dormiu bem na noite anterior preocupado com os problemas do dia que viria e acordou com dor de cabeça e sem muita motricidade para se maquiar.
Pela primeira vez encontrei um olhar tão cheio de pictogramas quanto o de Monalisa, muitas poderia ser as explicações, dessa vez não queria minha verdade, queria a dela, queria ela....de repente o olhar fixo, inerte, ganhou movimento e se cruzou com o meu, congelei, meus olhos não me obedeciam, somente miravam nos olhos dela, senti que minha alma também estava sendo desvendada e nada podia fazer, senti um prazer apaixonadamente sexual, nós agora estávamos ligados, nunca a vi, mas ela sempre esteve lá...na minha imaginação e eu a imortalizei com um olhar. Hoje, meses depois daquela paixão passageira, ainda não sei andar de bicicleta, mas aprendi uma coisa nova, filas de banco podem ser interessantes.
Paulo Roberto

5 comentários:

  1. COMENTÁRIO DE GEORGE POR E-MAIl
    Paulo Mendes, meus parabéns pelo blog, está muito legal. Vi seu ultimo texto e como não consegui
    postar um comentário, estou lhe mandando esse e-mail para parabenizá-lo. Achei muito envolvente
    sua reflexão, principalmente quando vc fala da fila do banco. São de coisas assim que precisamos,
    descobrir as riquezas que o cotidiano nos dá e que muitas vezes deixamos passar despercebidas.
    Se vossa excelencia me permitir, estou lhe enviando um texto do Rubem Braga intitulado Meu ideal
    seria escrever. É um texto relativamente simples, mas que acho de uma singular beleza. Mais uma
    vez parabéns Paulo Mendes. Qualquer dia vc aparece em um desses programas de TV como um dos
    maiores blogueiros do Brasil, rsrsrs.
    Abraço, George.

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  2. Vossa Santidade sempre me surpreende, estou sem palavras, além de estar muito feliz de vossa excelencia ter tirado um tempo para ler o que escrevi...e vou ler o texto de Rubens Alvez com muita atenção...Muito grato George!!!

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  3. Acho muito admirável o teu interesse pelas mudanças do 'eu'...as vezes a vida vai passando e passa somente,então é nessa condição que entra 'o outro' para nos reconhecer e apresentar nós a nós mesmo! Lindo o teu encanto pelo mundo da imaginação,Alice que o diga...

    Escrever também é uma porta para a alma querido, adoro tua moldura!

    Um beijo e escreva sempre;*

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. O imaginar como possibilidade... mt legal. Percebi que tem tanta coisa que não precisa de definição clara, ainda mais quando encontramos algo no suposto "vazio" do desconhecido.
    E quanto à bicicleta, novas pinturas heim??

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